"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem
tentou, sabe. Perigoso de mexer no que está oculto"
Clarice Lispector
Posso dizer, nesses mais de 30 anos como professora de Redação, que esse longo caminho percorrido me fez entender muito sobre as dores ligadas ao processo de escrita. Não, definitivamente não existe descaso do aluno quando diz não conseguir escrever, não é malandragem de muitos ao deixarem de entregar sua atividade de produção de texto, não é descompromisso com a matéria por preferir outra. O que geralmente existe é uma blidagem impedindo muitos estudantes de se aproximarem da escrita. Um misto de medo, pavor e impossibilidades criadas em si e para si.
Ouvi por anos uma avalanche de críticas de professores a esses jovens: "Eles não se esforçam. Não querem nada com nada. Falta leitura. Falta base. É relapso. Só vejo descaso. Não fazem nada..." Quanto simplismo!! Pensando nesses alunos ouvindo isso, queria poder voltar ao tempo e gritar a seus professores para que olhem para seu aluno como um ser humano.
Ao contrário de outras matérias escolares, uma proposta de redação traz uma folha em branco que escancara traumas gerados no enício do ensino de fundamental; reflete a insegurança - muitas vezes enfatizada pela própria família. A folha em branco para a escrita cede espaço às pressões internas, como perfeccionismo, grande vilão contra fluência das palavras. E ainda, a pressão de um vestibular e a prova de redação sendo ali o ponto precisoso para entrar ou não em uma universidade e, dependendo do curso, lá estará a banca dizendo: "no mínimo 9,5 se não, está fora.". E a culpa é do aluno que não dá conta?!
Ter dificuldades com a Redação vai além, muito além de se deter estruturas, apreender gêneros e e dominar a linguagem normativa. Como em todo processo criativo, a expressão emana de um ser, formado por mente, corpo e alma. Escrever é olhar para si e muitas vezes não gostar/aceitar o que vê ou simplesmente não saber lidar com tamanha complexidade. É a folha em branco sendo preenchida por dores, medos e frustrações. A angústia é real e precisa ser compreendia.
Se o que leu até aqui fez algum sentido para você, peço que não se cobre tanto. Peço que compreenda que a culpa não é sua e tão pouco da matéria. Encontre o caminho que desviou você do processo da expressão escrita. Indentifique o tal bicho de sete ou dezessete cabeça e, como Hércules, decepe cada uma com sua força, coragem e determinação. Se está difícil, procure ajuda. Mas não deixe esta angustia tirar de você o tanto que tem a dizer, por mais assustador que isso parece ser.
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